O Monólogo Monótono
( ... ). – Hã? – ( ... ). – Está bem. Se não me doesse a barriga como se tivesse um mar repleto de piranhas lá dentro, não me levantava. – Onde está mesmo? – Porra de confusão, a ver se encontro. Ora bem... rever o plano... ir à cozinha... abrir armário... tirar bolachas, fechar armário de novo... voltar para a sala. – ( suspiro ) – Merda de força da gravidade que nos pesa nos ombros e nos faz ficar marrecos. É a mesma coisa que imaginar os gajos na Lua com mochilas carregadas de tijolos, para comparar a pressão para baixo que a força gravitica faz na Terra. Eu bem sinto-o. – Estão aqui. – Prazer único este de comer, o processo em que os teus dentes esborracham milhares de compostos de manteiga, sal, adoçantes, conservantes e mais qualquer coisa.
A comunicação verbal é diminuta, mas a cerebral torna-se bastante activa. Focas-te no infinito até que uma mancha preta seja o teu campo de visão e aí estaras abstraido ao ponto de pensares que estás em outro meio envolvente, ou a criar expectativas e a divagar por aí, nunca se sabe. – ( ... ). – Uns momentos pensamos em quem somos e no outros quem poderiamos ser, uma dualidade entre o actual e talvez uma subjectiva perfeição.
- O tempo voa, já passaram três horas... – Ele não voa, é esquecido. Acho bem que as pessoas se fixem no presente, pois realmente é isso o que está a acontecer, só se vive no presente, cada minuto, segundo, agora. O passado e o futuro só se pode pensar, e nada vai alterar, pois na altura vai ser o presente. Incrivel como as coisas funcionam.
- Vou à casa de banho. – É maioritariamente na casa de banho que se encontram os espelhos. Momentos aqueles em que vemos quem somos em primeira pessoa, não é como numa foto que vês uma memória. Acho que as pessoas que se veem mais ao espelho, são aquelas que se conhecem melhor. Momentos únicos em que nos assistimos em tempo real, acompanhamos todas as nossas feições e gestos, estudamos o infimo detalhe da nossa (im)perfeição.
A habilidade para divagar ao ponto de não se estar a pensar concretamente em alguma coisa é trabalhosa. Resume-se de um acumulamento de fragmentos de preguiça com o geral desinteresse de aprofundamento maior. – Huh? – Sintoma usual em que nos apercebemos que estamos a chegar lá. E quando chegamos? (...) dormimos.
-parte três-
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