Esfrego as lágrimas da minha testa e limpo o suor dos meus olhos. Sim cansei-me de chorar, não vale mais a pena depositar fé em ti. Pois é uma falsa crença e a deusa que idealizo não existe. Em tempos seguia-te cegamente, mas mesmo cegamente, não te via. Hoje em dia vejo-te, mas eu só queria te contemplar na verdade. Existe uma linha paralela entre um sentimento real e imaginário, o real desvaneceu-se, por isso comecei a imaginar que ainda era verdadeiro.
Na pura das verdades é uma idiotice pegada num pseudo amor platónico, mas na verdade, acaba por ser mesmo isso, um amar mas sem tocar, ver, sentir. É inspirador sim, mas decadentemente triste e solitário. Uma estrada que se opta tomar, bastante arvoreada e não se consegue ver o céu através dos densos galhos que formavam um perfeito tunel até ao fundo da estrada. Percorri essa estrada durante anos, não sabia se tinha fim, não sabia como era o fim,e não sabia onde estava. Independentemente para onde olhasse só tinha a floresta que acompanhava ambos os lados da estrada, da qual já não sabia que caminho haveria de tomar, se continuava ou voltava tudo. A única coisa que realmente importava é que nas minhas costas ficava tudo para trás. E sabia bem a sensação, de caminhar numa estrada sem fim à vista, na qual me (re)perdia vezes sem conta.
Até que um dia a selva deixou de ser abrutamente envolvente e um belo azul pairava para onde quer que olhasse. Era inspirador, os meus olhos brilhavam, o meu corpo irradiava energia. Estava perante uma planicie de beleza esmagadora ao ponto de nos sentirmos tao pequenos por dentro que não aguentamos mais e queremos explodir e espalhar os bocados restantes por aí.
Fiquei perplexo durante minutos, estático completamente, horas ainda pasmado, a beleza era eterna, não existia um unico sentimento de desistencia, a vontade de contemplar era maior do que outra qualquer, a cada segundo que passava parecia mais belo que o anterior. Estava perante a fonte da vida e eu bebia dela até não poder mais.
Depois de barriga cheia de tão benzida água, a paisagem já não era igual, a noite começava a cair e já não se via a linha do horizonte, voltei a ficar triste e solitário pois a paisagem já não se avistava, e a minha dependencia de tal beleza começavasse a notar numa ressaca de introspecção, se amanha a paisagem estaria lá de novo. Dormia com a expectativa do acordar. Mas por desilusão, estava nublado, parecia tudo muito desfocado e baço. Sentei-me e pensei que se esperasse, ficava melhor. A verdade é que passaram dias sem fazer sol de novo. Tinha ciclos de ansiedade e extase, nem sabia bem porque, se foi já pela felicidade de pelo menos poder ter sentido tal virtuosidade, ou se era à espera da proxima vez, era estranha a sensação de estar num dilema entre a resignação ou persistencia. Mas foi mais forte que eu, tive de passar la semanas até que o sol majestosamente afugentou a névoa e a tremenda exposição a tal magnitude me enfeitiçou de novo. Era o topo do mundo, e só eu conhecia aquele sitio, corria e saltava como se uma criança fosse, toda a lógica e porporção deixavam de ser fulcrais. Só interessava rodopiar nos largos pastos e olhar para o ceu de olhos fechados, isto tudo feito com um solene sorriso de como quem se sente satisfeito com o que faz.
A noite pôs-se de novo, embalado pela dança toda tomo por garantido que o sol fosse nascer mais assiduamente por aí adiante.
E o sol realmente continuou a reinar os céus, a beleza mostrava-se sempre gratuita a ser consumida visualmente. Mas existia algo de diferente, já não era palvavel, não conseguia interagir com a Natureza, como se por momentos sempre que dava uma passada enfiava o pé num buraco ou se não era um passo em falso. Já não gostava de andar por ali, apesar de, todo o seu esplendor ser estonteante. Tentei afundar-me mais no coração daquela paisagem, fui à procura do horizonte, e o que o fazia tão belo. O caminho era como esperava, em pedrinhas todas juntas e umas maiores de lado a fazer de relevo a indicar as bordas da estrada, O verde rebentava por todo o lado, inspirava a frescura e todos os cheiros doces acumulados em tal inexplorado terreno. Ainda via o horizonte, mas muito lá ao fundo, de tal modo que parecia que estava do outro lado do mundo. Não desisti, sentia-me perto do santo graal, de uma epifania, do objectivo da vida, era algo grande sim, de tal modo que decidi avançar mais depressa.
Mais depressa comecei lentamente a aperceber-me que aquele caminho era um circulo, por isso é que o horizonte permanecia insistentemente longe. Sentei-me um pouco e percebi que precisava de furar mesmo pelo meio da virgem floresta de modo a desbravar terreno até chegar onde pretendia.
E assim foi, caminho a dentro me meti, a inicio toda esta penetração pelo desconhecido parecia ter o seu encanto. Todos os passos sabiam bem, era na direcção certa, ate que um enfiou numa zona mais maleavel, era arenoso, pedrinhas, e de repente parei. Parei e não consegui andar mais, tinha ficado preso num campo de areia movediça e afundava-me devagar. Era um processo ainda demorado, ser engulido lentamente pelo sitio que idealizava. Sentia angustia dentro de mim e uma desilusão infinita por nunca ter chegado ao horizonte. O sonho estava arruinado e a cada monento que era arrastado para baixo o horizonte tornavasse menos e menos visivel.
Por incrivel que pareça, quando pensei que fosse de vez, inverteu-se o processo e fui cuspido dali pra fora. Tinha uma nova opurtunidade, podia tentar mais uma vez chegar aos potes de ouro ou virar costas a este impulso incontrolavel de me aventurar pela floresta a dentro.
Decidi o que achei mais sensato, vir-me embora, o risco de ficar preso num buraco sem fundo era amedrontador. E continuo o caminho de volta, apesar de ainda olhar para trás para ter um pouco mais dos raios ardentes do sol vindo do paraíso, sinto que tenho de abandonar aquele local, consumia-me vivo. Volto para o campo à procura do horizonte ou vou-me embora de vez?
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